sábado, 5 de maio de 2012

LITERATURA INFORMATIVA


O presente artigo é fruto da curiosidade causada pela pouca quantidade de informações que constam dos livros  didáticos de Literatura Brasileira a respeito do primeiro   período  literário do país, denominado LITERATURA  INFORMATIVA (Século XVI). Faltariam informações sobre a Literatura  Informativa? A redundância que propositadamente usamos nessa pergunta nos leva a crer que sim. Por isso, pretendemos mostrar nesta pesquisa que, apesar de ocupar poucas páginas nos livros didáticos ou, até, às vezes, poucos parágrafos, tal literatura é  de extrema importância para os estudos literários , não só porque consiste nos primeiros documentos históricos/literários escritos no país, mas também porque o adjetivo INFORMATIVA atribuído a ela mascara as intenções contidas nesses documentos, que revelam nas suas linhas e entrelinhas que o "achamento" do Brasil foi um verdadeiro "achado".
Na sua "História Concisa da Literatura Brasileira"(1) Alfredo Bosi salienta que, embora a Literatura Informativa enquanto meramente um conjunto de informações sobre o Brasil recém  descoberto, na opinião de muitos, não  pertença à categoria do literário ( na de José Veríssimo, por exemplo), essa literatura "interessa como reflexo da visão de mundo e da linguagem  que nos legaram os primeiros  observadores do país”. (grifo nosso)
 Tal período "pré-histórico" de nossas letras contém obras que dão ao brasileiro da atualidade  a certeza de que algo deu errado na colonização do  Brasil : afinal, onde  estão as riquezas  (sempre abundantes ), as paisagens e os índios minuciosamente caracterizados nesses documentos ?

1. "NAVEGAR  É PRECISO, VIVER NÃO É PRECISO"
 "Navegadores antigos tinham uma frase gloriosa:
"Navegar é preciso, viver não é preciso"
Quero para mim o espírito dessa frase,
transformada a forma para casar com o que eu sou:
viver não é necessário; o que é necessário é criar"  ("Palavras de Pórtico", Fernando Pessoa )

Portugal, ao lado da Espanha, lidera as GRANDES NAVEGAÇÕES no final do século XV e pelo século XVI, sem dúvida, o episódio  mais importante de toda a sua história, pois desde então os grandes feitos do peito ilustre lusitano da época, esplendorosamente cantado por Camões na sua epopéia "Os Lusíadas", vêm sendo recantado, recontado e revivido no decorrer  dessa história, principalmente nos seus momentos mais cruciais, em que se faz necessário dar uma "injeção de ânimo" no povo português: não é à toa que o nacionalismo e a tradição histórica  consistem nos principais ingredientes das primeiras obras românticas produzidas no país, Romantismo esse que tem como obra que marca o seu início nada mais, nada menos, que  "Camões", de Almeida Garret, exatamente no momento em que Portugal tenta renascer das cinzas resultantes da invasão das tropas napoleônicas ali ocorrida, tudo isso em pleno século  XIX; não podemos nos esquecer também do que ocorreu no início deste século, do período que  sucede a instauração da República em Portugal (1910), em que as páginas de glórias da história   portuguesa - o período das grandes navegações - são relembradas num clima de saudosismo  nas revistas  literárias de caráter nacionalista, das quais a "Revista Águia" é o principal exemplo.
      Navegar, portanto, é preciso sempre em Portugal: no sentido literal da palavra, nem tanto, mas "navegar" na  lembrança tem sido uma constante na  vida portuguesa, de Camões a  Fernando Pessoa:

"O Tejo tem grandes navios
E navega nele ainda
Para aqueles que vêem em tudo o que lá não está
A memória das naus." 

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